Produzido por Hermínio Bello de Carvalho e Milton Nascimento, que também participou, nos vocais e piano, da música "Gota D'Água", de Chico Buarque, o álbum foi gravado em 1975 e lançado em 1976.
(Chico Buarque)
Data de gravação: 19/10/1975
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor, deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não!
Pode ser a gota d’água
Composição: Vital Lima, Sergio Rocha e Sidney Pinon
Data de gravação: 14/10/1975
Diga que não tem muita importância
Diga que não tem nenhum valor
Apague a luz, por favor, quando for lamentar
E agredir meu nome
Um cigarro às vezes dá pra refletir
Abra a janela se por acaso for
Necessário gritar meu nome
Que a solidão às vezes dá pra aperrear
Faça a cidade acordar e depois vá deitar,
Vá dormir pensando
Que amanhã posso voltar sem reagir
Composição: Lucio Cardim
Data de gravação: 13/08/1975
Quem sou eu
Pra ter direitos exclusivos sobre ela
Se eu não posso sustentar os sonhos dela
Se nada tenho e cada o vale o que tem
Quem sou eu
Pra sufocar a solidão da sua boca
Que hoje diz que é matriz e quase louca
Quando brigamos diz que é a filial
Afinal, se amar demais passou a ser o meu defeito
É bem possível que eu não tenha mais direito
De ser matriz por ter somente amor pra dar
Afinal o que ela pensa em conseguir me desprezando
Se sua sina sempre é voltar chorando
Arrependida me pedindo pra ficar
Composição: Danilo Caymmi / Joyce
Data de gravação: 14/10/1975
Ah! Você não sabe há quanto tempo
Ando pensando em te deixar
Não é sem ter razão de ser
Você me deslocou, me dissolveu
Me desprezou, desmoronou, desmereceu
E me desacreditou, desprotegeu
Me desanimou do que era meu…
Eu aqui fechado em nossa casa
E você solto por aí
Agora eu vou também viver
E me desenvolver, me despertar
Me descobrir, me desvendar, me distrair
Só pra te desenganar, desiludir
Do que você quer que eu venha a ser…
Sei que você vai desesperar
Mas como sempre só depois
Depois que tudo desandar
Mas eu agora sou outra pessoa
Que você só desconheceu
Cansada do descaso teu…
Querendo desfazer e desmanchar e destruir
E descambar e desistir
Pra depois desabafar, descontrair
Desaparecer e decidir…
Composição: Wilson Baptista / Robert Roberti / Arlindo Marques Jr.
Data de gravação: 20/08/1975
Deu uma hora…
Deu duas horas…
O silencio em meu quarto é pavoroso
Na escuridão eu escuto os seus passos
No meu delírio, ela volta aos meus braços
Ela abalou meu sistema nervoso…
Ela
Toda noite aparece
Me beija e foge através da vidraça
No meu delírio, me levanto e abro a janela
E só o vento, o vento frio é que me abraça…
Ela abalou meu sistema nervoso…
Composição: João Bosco / Aldir Blanc
Data de gravação: 17/12/1975
Nós dissemos
Que o começo é sempre sempre inesquecível
E no entanto meu amor, que coisa incrível
Esqueci nosso começo inesquecível
(Mas me lembro de uma noite
Sua mãe tinha saído
Me falaste de um sinal adquirido
Numa queda de patins em Paquetá
Mostra… Doeu
Ainda dói
A voz mais rouca
E os beijos, cometas percorrendo o céu da boca)
As lembranças acompanham até o fim o latin lover
Que hoje morre
Sem revólver, sem ciúmes, sem remédio
De tédio
Composição: Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro
Data de gravação: 11/09/1974
Arregaça o colo, morena, pra eu – regaça
De polo a polo, isso que Deus lhe deu de graça
Que eu me consolo em pensar que isso é meu
Como você prometeu
E, se não for, morena – eu te violo
Arregaça o colo, morena, pra eu, regaça
Quero teu corpo espalhado no meu, devassa
Sem brinco, argola, anel ou camafeu
Nada no leito de Orfeu
Só na vitrola a voz do João em solo…
Regaça o colo pra eu, morena, devassa
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant
Data de gravação: 15/10/1975
Tanta gente no meu rumo
Mas eu sempre vou só
Nessa terra, desse jeito
Já não sei viver
Deixo tudo, deixo nada, só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer
Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
Ah! Jogar o meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor
Vou fazer desse chão minha vida
Meu peito é que era deserto
O mundo já era assim
Tanta gente no meu rumo
Já não sei viver só
Foi um dia e é sem jeito, que eu vou contar
Certa moça me falando, alegria
De repente ressurgiu
Minha estória está contada, vou me despedir
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant
Data de gravação: 16/10/1975
Grande é grande a tua coragem, o teu amor
Tu és o fogo, o vento, chuva da manhã
Vá, não acendas a fera doida que existe em mim
Tu és mulher, cuidas da casa e da família
Mas não és da ribeira
Amaldiçoas a minha vida, tu não vês
Que o meu destino é de cigano e sonhador
A minha bota cheia de medo, silêncio e pó
Por aí segue caminho, segue sozinha
Suja e verdadeira
Idolatrada amiga, destino e mulher
Amigos tive, amigos tenho e terei
Eu sou em casa, eu sou no mundo o que eu sou
Tu não vês que nossa vida é o nosso filho
Da cor brasileira
Compositores: Tavinho Moura / Murilo Antunes
Data de gravação: 15/10/1975
… Disse que aqui mais nada é de graça
Nada é de coração
Vamos num tal de toma-de-lá-dá-cá
Minha nega eu pago pra ver…
Ver por debaixo o osso do angu
Disse que aqui mais nada tem troco, tudo o que vai não vem
Perdem bodoque, facão-corneta
Quebra a defesa, nega fulô
Que o trem tá feio e é bem por aqui
Meu facão guarani
Quebrou na ponta, quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem tá feio
Iá-iê-iá-iê-ia
E a cana-caiana
Eu disse a raiva, a carne de sol
Palha, forró e fumo de rolo
Tudo é motivo pra meu facão
Arma de pobre é fome é facão
Abre semente, aperta inimigo
Espeta até gavião
Corta-sabugo e lança um desafio
Não conta nem até três
O trem tá feio, e é bem por aqui
Composição: Gonzaga Jr.
Data de gravação: 15/10/1975
Eu nem ligo
Nem esquento a cabeça
Vou com força nas coisas
Que eu quero e devo fazer
Eles querem que eu
Me aborreça, estremeça
E me prenda nas cercas
Do seu circo mortal
Eu prossigo
E não perco a cabeça
Vou traçando as palavras
Como eu quero e devo traçar
Eles querem que eu
Me afobe e confunda
Mas eu ponho nas sombras
Do seu circo mortal
Tem que ser
Da largura do arame
O elemento é preciso
Estrutura é vital
Eu sou
Da largura do arame
O elemento é preciso
Estrutura é vital
1975 – ODEON – LP (SMOFB 3896)
Produtor fonográfico EMI-Odeon Fonográfica e Eletrônica S.A.
Direção artística: Milton Miranda
Direção de produção: Renato Correa
Produção Executiva: Hermínio Bello de Carvalho/Milton Nascimento
Orquestrações e Regências: Luizinho Eça/Wagner Tiso/Magro
Técnicos de gravação: Roberto Castro/Toninho/Darcy/Serginho
Técnico de remixagem: Nivaldo Duarte
Corte: Osmar Furtado
Capa: Cafi/Ronaldo Bastos
Fotos: Cafi