Haja Terapia

Composição: Juliano Holanda

Há algo de calmo e de raso nesse leito profundo
Tem dias que o sal atravessa as paredes do mundo
A água em desnível acentua o relevo das horas
E um traço contínuo vai misturando o gosto das auroras
Rua e rebento

Às vezes a vida é uma estrada sem acostamento
Tem dias que o sol estilhaça as vidraças da sala
Eu tenho tentado escutar as palavras que você não fala
O cabide de roupas do quarto parece um espantalho
É só mais um ato falho

O demônio lunático pousa sobre a catedral em chamas
Aprendi a reconhecer a serpente pelo dourado das escamas
Metade das coisas que ele diz não faz o menor sentido
E a outra metade, eu preferia mesmo era nem ter ouvido
Já era pra ter saído

Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos
A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos
Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia
Encontrei a metáfora mais clara que hoje me caberia
Pra evitar a azia

Me vesti com as paredes de casa, enquanto o lobo soprava lá fora
Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora
Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria
Eu tenho tentado fugir das notícias do dia
Haja terapia

Boca em Brasa

Composição: Zélia Duncan / Juliano Holanda

Boca em brasa
Doce, seca, molhada
Fogueira em chamas
Minha boca sua casa
Faço a cama na sala
Iluminada, iluminada

Boca em brasa
Dentro d’água um espelho
Refletindo na alma
No retrato um desejo
O que a cara escancara
Minha cara, minha cara

Eu digo, eu canto, eu incinero
E o mistério que vem me encontrar
Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero, eu quero
Eu sinto, eu amo, eu me revelo
E se você quiser me provar
Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero, eu quero

Os meios, os cantos, as ondas e os cabelos navego
Meus olhos, meus dedos, meus sonhos, meus enredos te entrego
As curvas e os freios, os fins e os recomeços espero, espero
Os lábios, os beijos, as pernas e os novelos
Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero

Nua

Composição: Simone / Tiago Torres da Silva

Debaixo do meu vestido tô nua
De músculos e lábio por beijar
Em frente de vocês
Visto a minha nudez e conchas
Que eu apanhei a beira mar

Debaixo do meu silêncio tô nua
De lágrimas e versos por falar
Despindo a minha voz
Meu canto é mais feroz
E a alma vai se pôr no seu lugar

E tudo é mais bonito assim
Do jeito que eu sonhei pra mim
A vida que eu despi de porto em porto
Mas porque a alma não se poupa
O tempo também tira a roupa
Devagar sobre o meu corpo

Debaixo do seu sorriso tô nua
De pássaros e sonhos por sonhar
Fui assim que eu te quis
E sei que sou feliz
Ao ser despida pelo seu olhar

E tudo é mais bonito assim
Do jeito que eu sonhei pra mim
A vida que eu despi de porto em porto
Mas porque a alma não se poupa
O tempo também tira a roupa
Devagar sobre o meu corpo

Estilhaços

Composição: Cátia de França / Flávio Nascimento

Porque a vida é
Tua mesa de comida é
Sem toalhas comportadas
De um pedaço de chão
Um leito leve de amor, porta, coração, aberto
Tens a cada hora uma aurora sempre perto

Porque teu tempo é
Não tens espera tens um abraço a cada instante
Tua vida é uma partida constante
Não tens o sangue frio
Frio do asfalto
Teu mundo não é feito, feito só de aço
Espalhas estilhaços de amor

A tua sede é calma
Calma de alma verde
A tua fome é fonte de onde nasce o homem
Espalhas estilhaços de amor

Teu corpo não tem norte
Também não tem o sul
Não há nenhuma algema que segure tuas mãos
A tua estrada não tem mancha, mancha de solidão
É o céu, o sol, o som
Nos dedos de tua mão

Porque teu tempo é
Não tens espera tens um abraço a cada instante
Tua vida é uma partida constante
Não tens o sangue frio
Frio do asfalto
Teu mundo não é feito, feito só de aço
Espalhas estilhaços de amor

A tua sede é calma
Calma de alma verde
A tua fome é fonte de onde nasce o homem
Espalhas estilhaços de amor

Teu corpo não tem norte
Também não tem o sul
Não há nenhuma algema que segure tuas mãos
A tua estrada não tem mancha, mancha de solidão
É o céu, o sol, o som
Nos dedos de tua mão

Porque a vida é
Estilhaços de amor

Porque a vida é
Estilhaços de amor

A Gente se Aproveita

Composição: Martins

Olha
Se tudo é tão incerto
A força do agora
Me rege como fosse um Deus

A gente se aproveita
Durante a tarde inteira
Depois eu vou embora
E volto de manhã

Tem dias que nem durmo
E sinto muita sede
E fico tão somente ali deitada

Engulo a madrugada
Me balanço na rede
Por que você não vem
Se balançar também?

Há dias que me arrisco só
Faz tempo que não vejo o mar
Há dias que não sinto
Nada além de frio e calor

Sério
Se nada nos der certo
Eu tento e vou embora
Mas se rolar eu volto a noite pra dormir

E a gente se aproveita
Durante a noite inteira
Eu dentro e você fora, eu choro e você ri
E a gente toma um café

Sério
Se nada nos der certo
Eu tento e vou embora
Mas se rolar eu volto a noite pra dormir

E a gente se aproveita
Durante a noite inteira
Eu dentro e você fora, eu choro e você ri
E a gente toma um café

Por Que Você Não Vem?

Composição: Joana Terra / PC Silva

Por que você não vem
Ser o meu cobertor
Por que você não vem
Para eu lhe descobrir
Eu sopro o seu verão
Com meu ventilador
Eu deixo o seu calor
Lamber o meu suor
A lua alta é o nosso refletor
A noite o seu perfume de sei lá
A madrugada cai exausta a suspirar
E de manhã de novo eu me pergunto

Escancarada

Composição: Gean Ramos / Rogéria Dera

As coisas todas que tu disse
Uma martela aqui a minha cabeça
Enquanto de frio a espinha treme
Das coisas todas que tu disse
Uma martela aqui a minha cabeça
Enquanto de frio a espinha treme
Precisa ser desse jeito?
É hora mesmo de se perder?
Quer sair, saia
Mas passe o perfume, aquele perfume
Que marque o caminho caso queira voltar
Quer sair, saia
Mas passe o perfume, aquele perfume
Que marque o caminho caso queira voltar
Tal qual o meu peito
É a porta da casa
Escancarada, escancarada

Dezembros

Você Distante

Composição: Isabela Moraes

Você distante é mais interessante do que possa parecer
Você distante é mais estonteante do que possa imaginar
Você distante, foto na estante
Nem isso eu quero rever
Você, apego, é meu desassossego e eu não quero nem saber
Você na minha só me desalinha
Me equilibro sem você
Você de perto é fogo no deserto, chama e lava de vulcão
Você tão perto é ponto fraco, eu perco a pose, o ego, o ar e o chão
Você de perto eu fico assim incerto, descontrolo o coração
Você mesmo faísca se me risca entro em alta combustão
Areia movediça, sou a isca na boca do tubarão
Você de longe ou perto assim não dá
Corri, voltei, tentei ficar
Mas não consigo te alcançar
Às vezes pra evitar a confusão
Melhor é a separação
Tu vai pra lá, que eu vou pra cá

Imã

Composição: PC Silva

Não saia pra a rua
Não me atravesse
Não morra de nada
Nem se interesse
Por nenhuma estranha
Por nenhuma outra

Não vê que eu sou sua
E nem que eu só fosse
Um amargo presente
Um dia já fui doce
Reveja seus planos
Me queira de volta
Me queira em seus planos

O meu pecado
Foi te querer perto
Errado ou certo
Agora nem importa
Reabra essa porta
Me queira em seu peito

Reabra seu peito
Me aceite de volta

Amor Brando

Composição: Karina Buhr

Eu já sinto um calor de amor, de amor
Quando você chega aqui

Tava tudo tão facinho, no rasinho
Eu sei me dar conta sim fui indo
Agora sinto um calor de amor
Quando você chega aqui

E eu te peço que
Se aproxime de mim um pouco
Mas não tanto
A ponto de eu sentir sua falta
Quando você for embora

Naturalmente