Tunai se vai, fica a saudade.

Uma vida de parcerias afinadas com a Cigarra

O ano de 2020 começou com uma triste notícia. A perda de Tunai, vítima de uma parada cardíaca na madrugada do dia 26 de janeiro, foi tão repentino que todo mundo precisou de uns dias para assimilar o que houve. O compositor foi um parceiro querido de Simone nos anos 1980, com canções emblemáticas como “Só de amor” e “Depois das dez”, ambas do álbum “Delírios, Delícias”, escritas junto com Sérgio Natureza. 

Assim como a Cigarra, Tunai era de uma família musical. Mineiro de Ponte Nova, José Antônio de Freitas Mucci aprendeu as primeiras noções de música com a mãe, criadora de um grupo de seresta e um coral de 40 vozes. Sua irmã foi crooner e seu irmão é ninguém menos que João Bosco. Assim como João, Tunai se formou engenheiro, mas não deixou a faculdade ofuscar a paixão pela música. 

Em 1977, conheceu o letrista Sérgio Natureza, com quem produziu boa parte do seu repertório. A estreia oficial como músico veio logo depois, em 1978, com Fafá de Belém cantando a faixa “Se eu disser”. E o reconhecimento também não demorou: bastou Elis Regina gravar “As aparências enganam” (Sérgio Natureza/Tunai) no disco ‘Essa Mulher’ (1979). Ao todo, Tunai gravou 12 discos solo, além de compor músicas para grandes artistas como Gal Costa, Nana Caymmi, Milton Nascimento, Beto Guedes, Roupa Nova, Elba Ramalho, Sérgio Mendes, e a nossa Cigarra.

Nesta mesma época, ele e a Cigarra se conhecem e começam a conversar sobre o disco “Delírios, Delícias”, lançado em 1983. Para “Cristal”, de 1985, até hoje é uma das músicas prediletas de Simone. Eles ainda trabalhariam juntos em outros três álbuns: “Amor e Paixão”, de 1986, em “Raras maneiras” (com Márcio Borges); “Sedução”, de 1988, com “Olhos negros”; e em “Simone”, de 1989, com “Apaixonada”. Esta faixa, no ano seguinte, foi incluída na trilha sonora da novela ‘Pantanal’, da TV Manchete.

Tunai sempre se destacou pela diversidade nas composições, indo com muita facilidade das canções pop às baladas românticas. “Tunai tocava muito bem o violão e as composições dele sempre tiveram uma musicalidade linda”, comenta a Cigarra.

A última colaboração foi em 2010, quando Simone participou com Milton Nascimento do álbum especial de 30 anos de carreira de Tunai. O convite era para regravar justamente “As aparências enganam”. “A versão de Elis foi tão marcante, praticamente insuperável, que eu hesitei um pouco antes de entrar no estúdio”, comentou Simone. Mas a gravação em três partes, com Tunai no início, seguido por Milton e terminando com a penetrante voz da Cigarra, não deixa nada a merecer.