Carta de Hermínio

Carta de Hermínio Bello de Carvalho

“Não sei explicar o porquê, mas sempre associo minha amada Simone a uma pedra preciosa, e dessas bem raras : ametista, topázio, turmalina, esmeralda, safira, rubi – a lista seria imensa. Talvez pela cor de sua linda voz, talvez pelo cuidado com que abriga as palavras que nós, poetas, depositamos aos seus pés para que as solte aos ventos.

Faço uma longa viagem ao tempo em que nos encontramos pela primeira vez: ela adolescente, os cabelos longos, nossas mãos um tanto estabanadas esculpindo bolinhos de arroz-e-feijão e farinha com as mãos, um entregando ao outro aqueles “capitães” (*) – ela muito bonita com seus cabelos longos, seus olhos cariciosos – como gosto dessa moça, Deus meu, que artista tão importante! E nossas viagens pelo mundo, como não lembrá-las? Ela no Marrocos comprando todos os caftans que encontrava pela frente, ela em Paris pisando o mítico palco do Olympia e a todos deslumbrando com sua arte – depois 3 meses entre os Estados Unidos e o Canadá – quantas lembranças!

Minha pedra preciosa : saiba que minha admiração por você não diminuiu um milimetro sequer. E siga cantando, minha Simone, que esse é o teu destino, teu ofício, tua sina, teu buquê de pedras preciosas.”

Hermínio Bello de Carvalho

(*) “bocado de comida que se leva com a mão à boca”, vide Dicionários Houaiss e Hollanda.

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