Simone sempre disse que música e esporte fazem o casamento perfeito.
Música, a arte que engloba todas as artes. Esporte, a ação que é um todo de manifestações humanas: emoção, estratégia, cultura e expressão do movimento em quadra.
A palavra música, que vem do grego mousikê e quer dizer “arte das musas”, cujo instrumento primeiro é a voz, tem a função de se comunicar com os deuses e com o povo.
Já a palavra esporte vem do Inglês sport, do francês antigo deportase, traduz a ideia de lazer e entretenimento. No latim de, significa portare, isto é, carregar algo, ou deportare, descarregar, descansar.
O esporte, historicamente, foi concebido como a arte de buscar a perfeição dos deuses e entreter o povo. Na sociedade moderna, música e esporte, seguem pautas não lineares, nas quais acordes e técnicas precisam de harmonia para que flua o jogo ou a melodia, sempre oferecendo às pessoas um belo espetáculo.
O balé no ar de um jogo de basquetebol, jogado pela cantora e assim definido por ela, foi criado por homens e para homens, no entanto, coube às mulheres, principalmente às brasileiras, o maior número de medalhas, quando comparado aos títulos trazidos pelas equipes masculinas.
Quando o basquete chegou ao Brasil os meninos não queriam jogar; diziam que parecia jogo de moças. Foi então, em 1930 que o estado de São Paulo, com times femininos muito fortes, foi o primeiro, a criar uma liga de basquetebol feminino. Somente 16 anos mais tarde foi criada a primeira seleção brasileira de basquetebol. Em 1946, essa seleção conquistou a primeira medalha (Prata) no Campeonato Sul Americano. Os jogos aconteceram dentro do Teatro Caupolicán em Santiago do Chile, um espaço dedicado a grandes espetáculos como óperas de companhias européias, orquestras sinfônicas e balé.
Coincidência ou não, o basquete feminino brasileiro estreou num teatro! O palco se transformou em quadra e possibilitou uma jornada espetacular para as gerações seguintes.
Em 1954, o Brasil se sagra campeão do Sul Americano virando presença constante nos pódios até hoje. Em jogos Pan-Americanos, as meninas do basquete ganharam medalhas em 12 das 24 edições dessa competição.
Simone jogando basquete
Simone foi convocada pela primeira vez em 1970 para ir a um Sul Americano em Guayaquil no Equador. A jovem alta e talentosa, foi descoberta por Marlene, Norminha, Nilza, Maria Helena, Heleninha, o time de Ouro dos jogos Sul Americanos de 1967, 1968 e 1970.
Simone não foi a Madrid em 1965 com suas companheiras, para os amistosos promovidos pelo Comitê Olímpico Internacional, mas jogou no time, por muitos anos, entre aquelas que conquistaram um lugar para o basquetebol feminino nos Jogos Olímpicos.
No evento da primeira medalha em um torneio mundial, no qual o Brasil pegou Bronze, lá estava a Cigarra, atleta-promessa do basquetebol feminino brasileiro se recuperando de duas lesões no tornozelo. As lesões a impediram de jogar, mas não de treinar e nem muito menos de cantar durante os intervalos dos treinos.
Simone não jogou no Ibirapuera em 1971, mas transformou a quadra em palco (coincidência ou não), lotando o ginásio numa temporada de 09 apresentações em três semanas seguidas, com 15 mil pessoas por noite, num total de 135 mil pessoas.
Simone escreveu um novo capítulo para a música popular brasileira, como a artista que mais vezes se apresentou num ginásio de 15 mil lugares num espaço de tempo tão curto.
Por incrível que pareça, Simone se consagrou cantora em um palco que foi quadra em sua história de ex-atleta de um esporte que se consagrou numa quadra que foi o palco de sua atual vida: a música.
Para que pudéssemos torcer pelo Brasil em 1992 nos Jogos Olímpicos de Barcelona, foi necessária uma luta diária e sacrifícios constantes das atletas brasileiras desde 1946.
Essas mulheres desbravaram caminhos em meio a muita discriminação e desigualdade para que fosse possível a expressão da competência esportiva da geração 1960-70. O time de 1971, do qual Simone fez parte, garantiu sua importância na história, primeiro por ter disputado os jogos em 1965 que incluíram a modalidade nos Jogos Olímpicos e segundo, porque não acreditaram nas pessoas que disseram que o basquete feminino não chegaria nunca às finais do Mundial.
Pois naquele evento, elas conquistaram uma medalha de Bronze e em seguida, trouxeram o primeiro Ouro nos jogos Pan-Americanos de Cali no mesmo ano.
E foram duas companheiras de equipe: Maria Helena e Heleninha que levaram o Brasil pela primeira vez às Olimpíadas, como as primeiras mulheres a dirigir uma seleção de basquete feminino.
Quem descobriu a Simone jogadora, também descobriu a Hortência e a Paula, a dupla infalível da geração seguinte. Tivemos, então os anos gloriosos da modalidade com Ouro nos Jogos Pan-americanos de 1991, ouro no Mundial de 1994 e duas medalhas olímpicas: Prata em 1996 (ainda com Paula e Hortência) e Bronze em 2000.
O basquete feminino brasileiro continuou marcando presença nos pódios dos jogos Pan-Americanos, Copa América e Sul Americanos desde 2000, porém, nenhum pódio no Campeonato Mundial ou nos Jogos Olímpicos. O que não justifica 19 anos de invisibilidade na mídia.
Com tudo isso assistimos a campanha, #levanteaboladelas lindamente lançada pela Liga Brasileira de basquete feminino com total apoio da Cigarra na sua 21ª live do dia 30 de agosto quando ela afirmou:
“Discriminação é crime! O basquete feminino merece, como todo esporte que é praticado por e com mulheres, merece respeito. Hello, estamos em 2020!”
No domingo, 06 de setembro, Simone fez novamente uma declaração de amor ao basquete. Emocionada, ela promoveu o lançamento do documentário Mulheres a Cesta, dizendo o nome de cada uma das jogadoras desde a seleção de 1946. E reconheceu o feito de cada uma das “mulheres que foram a cesta” e contribuíram para a história da modalidade no Brasil e no mundo.
A bola caiu na cesta e a cantora pegou o rebote que é seu microfone, entoando sua voz aos deuses, para que o povo ouvisse e reconhecesse estes nomes que ela, a Cigarra, leu em sua 22ª. live e homenageou em seu Blog.
Primeira Seleção de Basquetebol Feminina – Primeiro Campeonato Sul Americano – 10 a 22 de maio de 1946 no Chile. Medalha de Prata
Jogadoras:
Elisa Cândido Martins, Elvira Acedo da Costa, Estela Neves, Julia Ricardi, Laís Barbosa Pandolfi, Lourecilda Paes Leite, Maria Augusta Vieira, Ruth Pandolfi Queiroz Telles, Sofia Robotton Leonetti, Yvete Mariz, Zilda Ulbrich (Coca) e técnico Felício Fernandez Leoneti.
Primeira participação em Campeonato Mundial – Chile 1953 e primeiro lugar no Sul Americano de 1954.
Jogadoras:
Anesia da Costa, Aglae Giogio, Nair Kanawati, Wanda Lima Bezerra, Martha Helga Kampman, Marly Gama Alvarez, Ivone Santos, Noemia Assunção, Maria Aparecida Cardoso, Zilda Ulbrich, Maria Ferrari, Nivea Figueiredo.
Seleção Brasileira de Basquetebol Feminino que participou dos Jogos Amistosos contra a Tchecoslováquia em Madrid para a inclusão do Basquetebol nos Jogos Olímpicos
Jogadoras:
Maria Helena Cardoso, Norma Pinto de Oliveira, Marlene Bento, Delcy Ellender Marques, Nilza Garcia, Angelina Bizarro, Maria Helena Campos.
Primeira Seleção Brasileira a conquistar medalha em campeonatos mundiais (Bronze)
Jogadoras:
Maria Helena Campos, Maria Helena Cardoso, Nadir Bazzani, Laís Elena Aranha da Silva, Odila Fernandez, Marlene José Bento, Benedita Anália de Castro, Jacy Bohemer Guedes de Azevedo, Nilza Monte Garcia, Delcy Ellender Marques, Norma Pinto de Oliveira, Elza Arnelas Pacheco, Cleonice Maria Alves Gonzales e Simone Bittencourt de Oliveira.
Primeira seleção a participar dos Jogos Olímpicos
Jogadoras:
Hortência de Fatima Marcari, Helen Luz, Nadia Bento De Lima, Vania Souza, Maria Goncalves, Janeth dos Santos Arcain, Adriana Santos, Marta Souza Sobral, Ruth Souza, Maria Bertolotti, Joycenara Batista, Simone Pontello.
Primeira Seleção a conquistar Medalha Olímpica (PRATA)
Jogadoras:
Hortência Marcari, Maria Angélica Silva, Adriana dos Santos, Leila de Souza Sobral, Maria Paula Gonçalves da Silva, Janeth dos Santos Arcain, Roseli do Carmo Gustavo, Marta de Souza Sobral, Silvia Andrea Santos Luz, Alessandra Oliveira, Cintia Silva dos Santos, Claudia Maria Pastor.
Campeã Pan-americana 2019
Jogadoras:
Isabela Ramona, Raphaella Monteiro, Patrícia Teixeira, Tainá Paixão, Lays da Silva, Tatiane Pacheco, Clarissa dos Santos, Aline Cezário, Érika de Souza, Débora Costa, Stephanie Soares, Izabella Sangalli.
Este é um breve resumo da história do basquete feminino do Brasil.
Uma linda história de talento, de esforço, de dedicação, mas acima de tudo de luta constante pelo lugar da mulher no esporte brasileiro. Valeu, Cigarra!
Claudia Guedes
Parabéns pelo texto e a todas mulheres do Basquete brasileiro feminino que lutaram e ainda lutam muito pelo respeito e espaço em quadra. E Simone quando esteve em quadra brilhou tanto que o espaço virou PALCO e a jogadora se transformou na estrela da MPB! Lutemos sempre em tudo para que a voz de uma mulher alcance horizontes cada vez mais distantes.
Parabéns à todas essas mulheres fortes, guerreiras e vitoriosas. Parabéns à você Simone, minha querida e amada Estrela única!!!⭐♥️🏀👏👏👏
Um dia, espero que logo, a equidade chegue ao esporte e possamos reconhecer ainda mais o valoroso e pioneiro trabalho das atletas mulheres que foram vitoriosas nas quadras, nos campos, nas piscinas e nas batalhas diarias em suas próprias vidas!
Parabéns para elas, todas as nossas atletas, que mesmo com tão pouco incentivo, conseguem fazer história. Obrigada Simone por incentivar a muitos olharem para o esporte. Você é diva mesmo👏🏻🌟❤️
Tive o privilégio de acompanhar jogos memoráveis na década de oitenta, quando duas titãns entravam em quadra: Paula x Hortência. Em um duelo de talento em quadra, que obrigatoriamente nos fazia torcer ou por uma ou por outra. Que barquete maravilhoso o dessas deusas da cesta. Parabéns a todas as mulheres do nosso basquete, que marcaram sua presença com suor e coragem desde sempre.
Parabéns Claudia Guedes, minha amiga desde sempre, não só pelo seu lindo trabalho histórico, mas principalmente pela sensibilidade e coragem com que ele foi realizado.
Maravilhosa a história e o texto, Cláudia Guedes!
Parabéns à Simone pelo esporte, pela música, mas também, por fazer parte do livro e do filme: “Mulheres à Cesta”! 🏀🎬🤩🎼🥰
Lindo resumo da história do nosso basquete linda homenagem à todas essas GUERREIRAS… E que chegue o mais rápido a equidade no esporte em todas as modalidades 🙏 🏀🏀🎶🎼🎤🌟🌟❤😍👏👏👏👏👏👏
Impressionante a trajetória da Cigarra, imperdível o documentário “Mulheres à Cesta”. Precisa ganhar o mundo.Maravilha!
Parabéns à todas! Adorei o breve resumo da história do Basquete feminino. Atletas vitoriosas e guerreiras. Nossa Amada e querida Simone, parabéns pelo esporte, música e talento transbordante. Tudo que faz, torná-se em Luz e harmonia! Amo o vídeo da cesta feita com a bola de basquete, que quando cai é um microfone. Muito bem bolado e criativo. PARABÉNS !
Parabéns pela pesquisa, pelo livro…enfim, por nos mostrar de forma clara e luxuosa e cheia de detalhes como tudo começou. Bravas mulheres, abrindo caminho para as novas gerações, numa época em que o talento, e apenas ele, ditava as regras.
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