Produzido por Renato Corrêa, o álbum traz a primeira parceria musical de Chico Buarque e Milton Nascimento, "Primeiro de Maio".
Composição: Sueli Costa / Cacaso
São as trapaças da sorte
São as graças da paixão
Pra se combinar comigo
Tem que ter opinião
São as desgraças da sorte
São as traças da paixão
Quem quiser casar comigo
Tem que ter bom coração
Morena quando repenso
No nosso sonho fagueiro
O céu estava tão denso
Inverno tão passageiro
Uma certeza me nasce
E abole todo o meu zelo
Quando me vi face a face
Fitava o meu pesadelo
Estava cego o apelo
Estava solto o impasse
Sofrendo nosso desvelo
Perdendo no desenlace
No rolo feito um novelo
Até o fim do degelo
Até que a morte me abrace
São as desgraças da sorte
São as traças da paixão
Quem quiser casar comigo
Tem que ter bom coração
São as trapaças da sorte
São as graças da paixão
Pra se combinar comigo
Tem que ter opinião
Morena quando relembro
Aquele céu escarlate
Mal começava dezembro
Já ia longe o combate
Uma lambada me bole
Uma certeza me abate
A dor querendo que eu morra
O amor querendo que eu mate
Estava solta a cachorra
Que mete o dente e não late
No meio d’aquela zorra,
Perdendo no desempate
Girando feito piorra
Até que a mágoa escorra
Até que a raiva desate
Composição: Milton Nascimento / Chico Buarque
Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas
Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é o seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu
Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã
Composição: Milton Nascimento / Novelli / Nelson Ângelo / Fran
Dentro das alas
Nações em festa
Reis e rainhas cantar
Ninguém se cala
Louvando as glórias
Que a história contou
Marinheiros, capitães, negros sobas
Rei do Congo
A rainha e seu povo
As mucamas
E os escravos no canavial
Amadês senhor de engenho e sinhá
Traz aqui maracatu nossa escola
Do Recife nós trazemos
Com alma
A nação maracatu
Nosso tema geral
Vem do negro esta festa de reis
Composição: Chico Buarque
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
O que será que lhe dá
O que será meu nêgo, será que lhe dá
Que não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto do dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será, que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente, que não sacia
Que é feito estar doente d’uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo
Composição: Toninho Horta / Fernando Brant
A cidade acalmou
Logo depois das dez
Nas janelas, a fria luz
Da televisão, divertindo as famílias
Saio pela noite, andando nas ruas
Lá vou eu pelo ar,
Asas de avião,
Me esquecendo da solidão,
Da cidade grande, do mundo dos homens,
Num vôo maluco, que eu vou inventando
E vôo até ver nascer o mato, o sol da manhã,
As folhas, os rios, o azul,
Beleza bonita de ver
Nada existe como o azul sem manchas
Do céu do planalto central
E o horizonte imenso, aberto,
Sugerindo mil direções
E eu nem quero saber
Se foi bebedeira louca
Ou lucidez
Composição: Tavinho Moura / Fernando Brant
Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressurreição
E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé
Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia
Da barca dos homens
Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor
Composição: Sueli Costa / Abel Silva
Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que quero me suprime
De que por não saber, ainda não quis
Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que não sofri
Composição: Chico Buarque / Francis Hime
Valsa, rancha
Me faz esquecer
Esperar
Mil lágrimas, mil lágrimas, mil lágrimas
Valsa, rancha
Me faz responder
Transbordar
Em mil lágrimas, mil lágrimas, mil lágrimas
Mil abraços
Mil fracassos
Meu delírio, teus pedaços
Teu calor
Seja feito o teu desejo
Seja um beijo
Seja como for
Quantos braços
Mil regaços
Mil e uma noites
Faz uma outra vez
Como se ainda fosse
Como é doce
Como você fez
Me valsa
Me rancha
Me faz
Me deixa
Que criança
Que esperança
Que prazer
Que saudade
Que maldade
Piedade
Que fartura
Que loucura
Que cruel tortura
Nos carinhos teus
Minha santa criatura
Diz que jura
Pela mãe de Deus
Valsa, rancha
Me faz desfazer
Descansar
De mil lágrimas, mil lágrimas, mil lágrimas
Valsa, rancha
Me faz duvidar
Delirar
Prometer
Desatar
Responder
Transbordar
Devolver
Me acabar
Devagar
Desmaiar
Com você
Composição: Nelson Ângelo / Fernando Brant
Canôa, Canôa
Desce no meio do
Rio Araguaia
Desce no meio da
Noite alta da floresta
Levando a solidão
E a coragem
Dos homens que são
Avá, avá canoê
Avá, avá canoê
Avacanoeiro, prefere as águas
Avacanoeiro ,prefere os peixes
Avacanoeiro, prefere o rio
Avacanoeiro prefere remar
Avá, prefere pescar
Avá,prefere pescar
Dourado, arraia, grumatá
Piracará, pira-andirá
Jatuarana, Taiabucu
Piracanjuba, peixe-mulher
Avacanoeiro ,quer viver
Avacanoeiro, só quer pescar
Dourado, arraia e grumatá
Piracanjuba, peixe mulher
Composição: Gonzaga Jr.
Começaria tudo outra vez
Se preciso fosse, meu amor
A chama em meu peito ainda queima
Saiba nada foi em vão
A cuba-libre dá coragem em minhas mãos
A dama de lilás me machucando o coração
Na sede de sentir seu corpo inteiro
Coladinho ao meu
E então eu cantaria a noite inteira
Como eu já cantei eu cantarei
As coisas todas que já tive, tenho e sei
Um dia terei
A fé no que virá
E a alegria de poder olhar pra trás
E ver que voltaria com você
De novo viver nesse imenso salão
Ao som desse bolero vida vamos nós
E não estamos sós
Veja meu bem a orquestra nos espera
Por favor mais uma vez
Recomeçar
1977 – EMI-ODEON – LP (SXMOFB 3931)
Arranjos:
Faixa 2A – Cello escrito por Milton Nascimento
Faixas 1A e 3 B – Arranjos de Base Eduardo Souto Neto
Os outros Arranjos de Base foram criados nos estúdios pelos músicos que participaram da gravação
Produtor Fonográfico: EMI-ODEON Fonog.Indl. e Eletronica S.A
Direção artística: Milton Miranda
Direção de produção: Renato Corrêa
Técnicos de Gravação : Roberto/ Toninho
Técnico de Remixagem: Nivaldo Duarte
Corte: Osmar Furtado
Capa: Noguchi
Foto: Ronaldo Cientista
Foto com efeito de eclipse: Zoom